sexta-feira, 8 de maio de 2015

tocando o foda-se

Ser mãe requer uma superioridade em relação aos outros no quesito tocar o foda-se. Explico: estou aqui sentada, meio que sem fazer nada. Meu filho dorme, não trabalho hoje, acabo de sair de uma super virose avassaladora e não penso em me mexer. Acho ousada até digitar. Enfim, estou sem fazer nada. Nada, que era algo tão legal de se fazer no passado, virou preguiça. E com a preguiça, adivinhem?, a culpa. Daí que vem o lance de tocar o foda-se. Esse ciclo mental acontece algumas vezes por dia na minha cabeça. Algo mais ou menos assim:

Que bom que meu filho dormiu --> O que vou fazer? --> Tenho x, y e z na lista, mas não quero fazer nada --> se eu não fizer nada depois ele acorda e aí não dá mesmo --> mas eu também tenho que descansar, poxa! --> mas já fazem 3 horas que ele dorme --> me deixa! vá se foder

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Não sei se é assim com todos, mas a transição do Leo pro berço está sendo (já faz 2 meses) um verdadeiro inferno. Na verdade fizemos a transição antes de ir pro Brasil porque lá ele ia dormir numa caminha mesmo, então não queríamos que fosse um big deal.

Então tiramos a grade de um dos lados do berço. Ele achou engraçado. Ficou sentado olhando, maravilhado, aquele mundo de oportunidades agora que estava havia obtido seu habeas corpus. E dormiu. Mas dali pra frente, gente, passou a ser infernal. Chororô toda noite, medo de escuro, queria colo até cair no sono... Ou seja, achava e ainda acho que fizemos a transição muito cedo. Ele ama o bercinho. E resolvemos reverter, daquele jeito tosco: giramos o berço. Assim, a parte sem grade ficava voltada pra parede, e era como se ele continuasse no bercinho.

Em dois dias ele aprendeu a empurrar a parede e sair sozinho.

Agora as coisas melhoraram, claro. Mas ainda acho que fizemos a transição muito cedo. De qualquer forma, sinto saudades de ir buscá-lo de manhã, e vê-lo com aquele olhar apreensivo para que alguém o tire logo do berço e comece as atividades do dia. E acho lindo que hoje ele sai do quarto, abre a porta do meu, e vem me acordar com um sorriso imenso, se aninhando do meu lado. 

sábado, 21 de fevereiro de 2015

Ivy (dis)league feelings

Empaquei neste blog, comecei outro com outro propósito e resolvi voltar aqui  hoje para falar um pouco das preocupações da vez. Sempre vão haver preocupações, certo?

No início é o ganho de peso, como e quanto está mamando, quanto está dormindo. Depois passa a ser os milestones de desenvolvimento: já engatinha? Anda? Fala? Conta? Corre? Pula?

E depois as preocupações começam a ficar mais complexas, e é por isso que voltei aqui. Estou começando a passar por uma crise. Não em relação a meu filho, mas ao mundo a qual ele está prestes a ser exposto.

Ano que vem será o ano em que ele completa 4 anos. Portanto, aqui nos EUA já é elegível ao Pre-K. Eu e meu marido sempre fomos a favor de educação pública aqui nos EUA. Escolhendo bem, é possível uma educação bacana. Certo? Hum, mais ou menos. Depende de onde você mora. E mesmo assim, ranking oficial de escolas não diz muita coisa para mim. Basta lembrar que o último episódio de tiroteio juvenil aconteceu numa escola pública muito bem posicionada neste ranking.

Então, quando falo de escolas boas, não falo em escolas com notas altas nos testes oficiais. Estou falando do que, desde já, quero para meu filho. Não estou pensando no currículo per se, ou em quantas cambalhotas ele vai estar conseguindo virar e se aos 3.48 anos já vai estar escrevendo o próprio nome. Não faço a menor questão de ter um filho precoce. Para falar a verdade, prefiro que ele não seja! Eu fui uma criança precoce, e isso não me trouxe benefícios. Muito pelo contrário, estou convencida, após anos de terapia e auto-reflexões, que a disparidade do meu desenvolvimento emocional e do meu desenvolvimento intelectual me trouxe muitos problemas na escola, e acho que resquícios dessa disparidade me atrapalham até hoje.

Estou falando de fundamentos de uma pessoa feliz e pronta para o mundo que ela escolher trilhar. Não pronta pro mundo que temos hoje. Azamiga e uzamigo hão de concordar que o mundo as we know it não é e não será exatamente um benchmark de felicidade. Então comecei a me perguntar se se encaixar no *sistema* é tão importante quanto sempre achei que fosse.

Afinal, vamos lá, o que é o *sistema*?

O sistema aqui em Nova York funciona mais ou menos assim:

Você participa de uma loteria para conseguir fazer a application para seu filho entrar na escola que você escolheu. A maioria vai escolher escolas de nome, com ranking alto. Por quê? Porque depois do Pre-K e Kindergarten, vem outros anos da Elementary School. Você só vai conseguir colocar seu filho numa elementary school *conceituada* se ele passou por um kindergarten *conceituado*. E ele só vai para uma middle school *conceituada* se tiver vindo de uma middle school *conceituada*. E ele só vai para uma high school *conceituada* se vier de uma middle school *conceituada*. E ele só vai conseguir entrar numa faculdade *conceituada*, uma Ivy League da vida, se vier de todo um histórico de escolas *conceituadas* (quase sempre privadas) e se, claro, passar em testes que avaliam coisas que se ensinam em escolas *conceituadas*. A ex-criança entra na faculdade *conceituada* e sai de lá com a maior empregabilidade possível na face da Terra. Toda a família, menos a ex-criança, viveu feliz para sempre. Cai a cortina, The End.

Há excessões à regras? Sempre. Mas estou querendo dar um panorama bem geral. Pense numa pessoa com preguiça de elaborar. Lógico que o esquema não é tão simples, mas dá para dar uma ideia de como o ciclo costuma se fechar.

Eu segui esta trilha. Não nos EUA, no Brasil. Me formei numa faculdade conceituada após estudar em escolas conceituadas. Hoje minha empregabilidade é alta mesmo nos EUA, mesmo em Nova York. Todo mês sou contactada por concorrentes da minha empresa ou headhunters. Puxa, parabéns, que bacana, né? Nem um pouco. Enquanto minha empregabilidade permanece alta, minha vontade de fazer uma CARREIRA BRILHANTE cai. Hoje minha vontade está canalizada para a educação, alimentação e desenvolvimento emocional do meu filho. Está canalizada para o sonho que sempre tive de viver da escrita. Está canalizada para aumentar a qualidade de vida da minha família. Está canalizada para fora do *sistema*. E levei 35 anos para chegar lá. No final do ano passado pedi demissão da empresa onde trabalhava para ser "recontratada" num esquema flexível, e num cargo mais baixo. Hoje trabalho 3 vezes por semana, sendo apenas 1 delas fisicamente no escritório. Hoje não tenho equipe, fator que sempre me estressou muito mas que eu me recusava a abandonar por orgulho de não querer dar "um passo para trás" (exatamente como o *sistema* me ensinou). Hoje tenho um dia inteiro na semana para mim e para por a casa em ordem, e outro dia para ficar exclusivamente com meu filho. Apenas hoje eu realmente tomei as rédeas da minha rotina. Até então, o *sistema* ditava as regras e eu, infeliz, seguia.

Decorrência de 35 anos no *sistema*? Ansiedade, depressão, estresse, dor de coluna, obesidade, retração social. Como estou hoje em relação a um ano atrás? 16 quilos mais magra, sem depressão e com ansiedade controlada, mais sociável e, de forma geral, mais risonha, paciente e disposta. Tomo uma dose alta de anti-depressivos, é verdade. Mas há um ano os remédios não estavam adiantando. E, quem sabe?, em breve poderei começar a diminuir.

Imagino que hajam pessoas naturalmente felizes dentro do *sistema*. Mas algo me diz que esse número é bem baixo.

Então não, não quero preparar meu filho pro *sistema*. Não quero alguém repetindo meus erros e seus efeitos. Quero que ele crie seu próprio caminho, e que este caminho seja tão tortuoso quanto necessário para que ele se sinta completo.

A teoria está show. E a prática?

Pois é. Eu pergunto também, todos os dias: e a prática? Eu bem que queria ter as resposta. Queria saber fazer as escolhas certas para que meu filho se desenvolva da forma mais prazerosa e inteira possível. Mas não tendo eu vivido uma vida assim, fora da caixa, é difícil enxergar com outros olhos. É difícil fazer as melhores escolhas. Assim como também é difícil não ficar obcecada em acertar sempre nas escolhas (outro efeito colateral do *sistema* sobre mim, e 99% das mães que conheço).

Hoje, o que sei é que além de tomar decisões conscientes próprias (levando em conta a opinião dos outros mas não me baseando nela), preciso ter em mente que se minha decisão foi errada, posso voltar atrás e tentar outra trilha - e não tem problema. Que o mundo de hoje não é um exemplo de mundo para ninguém e que, portanto, questionar constantemente o protocolo tem que ser tão natural quanto não questionar foi no passado.

Dedico este post a minha mentora e irmã, Bobby, que tem me influenciado muito, e positivamente, nessa trilha tortuosa que é a "maternidade fora da matrix", como ela diz. 

domingo, 22 de dezembro de 2013

1 ano e 1 dia

Ontem foi o aniversário de 1 aninho do Léo. Eu tive aquele ímpeto que me acompanha há muito tempo: o ímpeto de não fazer nada. Mas sucumbi aos pedidos do meu marido, e foi bom ter sucumbido. Uma delícia vê-lo em seu quartinho cheio de crianças brincando junto, um roubando brinquedo do outro. E quando a festa terminou e pus meu filho pra dormir, fiquei pensando que é inacreditável isso tudo que estou vivendo. Que parece uma outra vida aquela pré-filho. Cantei parabéns pro meu bebê, mas senti que cantava para mim. Há um ano eu morri e renasci. O processo foi doloroso e lindo, desesperador e doce. Ainda há luto em mim, mas há mais vida. Dentro e fora do peito.

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

quase um ano

Difícil dizer quem mudou mais nesse ano, eu ou você, meu filho.

Você era aquele serzinho que não respondia a nada que não fosse desagradável. Só sabia chorar (e eu sei que foi um bebê bonzinho mesmo assim). E o tempo passou e com um mês você sorriu. E depois disso, mais dois meses e gargalhou. E logo virou uma pessoinha mais decifrável e extremamente agradável, feliz e tranquilo. Aí foi passando o tempo e foi crescendo sua curiosidade e sua estatura. Seu peso quase triplicou e sua altura aumentou em 50%. Seu sorriso se encheu de dentes e a careca, bem, a careca continua bem aparente, mas os fiozinhos dourados começam a cobrir sua cabecinha linda.

Eu passei pelo período mais difícil da minha vida, o ano mais difícil. Fui a um poço tão profundo que jamais imaginei existir lugar tão desesperador. Vi as horas se arrastarem enquanto o mundo me dizia que elas passavam rápido. Me senti um ET e mais sozinha do que nunca. E neste mesmo ano, devagar, consegui florescer, e virar mãe. E perceber a doçura que é ser a pessoa mais importante na vida de alguém para sempre. E a dor imensurável que é o mais curto dos choros, e a alegria descontrolada que é uma gargalhada de bebê. Tudo absurdamente extremado. Ainda não me acostumei com essa montanha russa, confesso. Acho que vai mais um tempinho. Mas o que importa é que agora eu sei que vale a pena. Só de imaginar meu filho dormindo, ou brincando, rindo ou chorando, eu já sinto fisicamente as reações químicas acontecendo em mim. Aquele chavão de virar bicho, enfim, é verdade.

Então acho que foi isso, meu filhinho: em um ano, de bicho você virou gente. Eu, de gente virei bicho. E em algum lugar no meio do caminho a gente se encontrou. E foi aí que eu entendi tudo o que poderia entender. E que tudo mais que eu não entendesse, é porque realmente não tinha como. E que vou ter que me acostumar com essa coisa de não entender porque agora vai fazer parte da minha vida. E isso dói mas faz crescer. Quase tanto quanto meu amor por você, meu titico.

quinta-feira, 21 de março de 2013

o peso do post inaugural

Não sei por quanto tempo este blog existirá. Há o risco de serem poucos meses, há o risco de serem muitos anos. Na verdade, tentarei não me apegar. Se tiver que morrer, morrerá. Mas acredito na terapia da escrita e do compartilhamento. Então aqui estou, tentando entender o mundo após o nascimento do Léo.

Foi em 20 de dezembro de 2012. Uma cesárea clássica que arrepiaria todos os pelos da hippyzada, após 40 semanas e 1 dia de gestação. Após 20kg ganhos e dores de todo tipo. Eu quis parto normal mas depois de 40 semanas pedi água.

Já no terceiro dia de vida do Léo eu percebi que algo estava errado. Foi na última noite no hospital. Bateu um desespero e todos, em uníssono, clamaram: Baby Blues!

Mas era mais do que isso, como a história contou. Cá estou, 3 meses e 1 dia após o nascimento do meu filho, lutando contra a Depressão Pós Parto.

Mas calma. Engana-se quem pensa que este blog falará de depressão pós parto. Este é um dos tags, claro. É algo presente na minha vida hoje. Mas há muito, muito mais que isso. E este espaço eu criei para escrever sobre o que me viesse a cabeça. Como minha vida agora orbita em torno do meu filho, acho difícil que o tópico saia muito de maternidade. E estou tentando encarar dessa forma - eu mudei. Minha vida mudou após meu filho. Ousaria dizer que quase renasci, não tivesse eu tantas vezes ao longo desses 3 meses flertado com a morte.

Enfim, estou aqui pensando em como fazer deste primeiro post um post que agregue, que se comunique com outras mães ou que apenas desaperte meu coração que hoje está especialmente apertado, por razão nenhuma. Mas ainda estou assoberbada demais para a causa e efeito. Escrevo e pronto. Depois a gente vê no que tudo isso vai dar.